Eros e Psique (Fernando Pessoa)

EROS E PSIQUE

escultura
*Escultura da Antônio Canova

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
Do além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa adormecida,
Se espera, dormindo espera.
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado.
Ele dela é ignorado.
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E, vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora.

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

*A escultura de Antônio Canova está exposta no Museu do Louvre e representa o beijo de Eros que trouxe Psique de volta à vida.

***

O poema, publicado em 1934, remete à história da mitologia grega de Eros e Psique. Eros, o deus do amor, também conhecido como Cupido, é retratado como uma criança que se apaixona por Psique, uma mortal dotada de extrema beleza. Porém, Psique quebra o único mandamento de Eros, que era o de nunca ver seu rosto, pois ele queria que ela se apaixonasse por quem ele era e não por sua aparência. Assim, ao descumprir esse acordo, ele a abandona.

Psique começa a andar pelo mundo sozinha e triste, tentando reencontrar Eros, seu amor, mas acaba desistindo e decide morrer, caindo num sono profundo. É ao momento em que  Eros vai de encontro a ela e a transforma em imortal que o poema de Fernando Pessoa faz alusão.

Embora o poema demande algum conhecimento em mitologia grega para ser compreendido, ele é interessante até mesmo para o público que não conhece essa história. Para as crianças, por exemplo, ele pode ser interpretado sob a ótica da história da Bela Adormecida, amplamente conhecida no universo infantojuvenil.

Além disso, Fernando Pessoa construiu o poema com palavras simples e com um ritmo agradável aos ouvidos – características que costumam atrair a atenção do público leitor mais jovem. Portanto, “Eros e Psique” é excelente para aqueles que não conhecem tanto a poesia de Pessoa e, assim, possam se interessar mais.

E para terminar em grande estilo, “Eros e Psique” na maravilhosa voz de Maria Bethânia ♥

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